segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Christmas Evans - "O João Bunyan de Gales"



(1766 – 1838)


Seus pais deram-lhe o nome de Christmas porque nasceu no dia de Natal (Christmas, em inglês), em 1766. O povo deu-lhe a alcunha de “pregador caolho”, porque era cego de um olho. Alguém assim se referiu a Christmas Evans: “Era o mais alto dos homens, de maior força física e o mais corpulento que jamais vi. Tinha um olho só; se há razão para dizer que era olho, pois mais propriamente se pode dizer que era uma estrela luzente, brilhando como Vênus”. Foi chamado também o “João Bunyan de Gales”, por que era o pregador que, na historia desse país, desfrutava mais do poder do Espírito Santo. Em todo lugar onde pregava, havia grande numero de conversões. Seu dom de pregar era tão extraordinário que, com toda facilidade, podia levar um auditório de 15 a 20 mil pessoas, de temperamentos e sentimentos vários, a ouvi-lo com a mais profunda atenção. Nas igrejas, não cabiam as multidões que iam ouvi-lo durante o dia; à noite sempre pregava ao ar livre, sob o brilho das estrelas.



Durante a sua mocidade, viveu entregue à devassidão e à embriaguez. Numa luta, foi gravemente esfaqueado; outra vez foi tirado das águas como morto e, ainda doutra vez, caiu de uma árvore sobre uma faca. Nas contendas era sempre o campeão, até que, por fim, numa briga, seus companheiros cegaram-lhe um olho. Deus, contudo, fora misericordioso durante esse período, guardando-o com vida para, mais tarde, fazê-lo útil no seu serviço.

Com a idade de 17 anos, experimentou a graça da salvação. Aprendeu a ler e, não muito depois, foi chamado a pregar e separado para o ministério. Seus sermões eram secos e sem fruto até que, um dia, em viagem para Maentworg, segurou seu cavalo e entrou na mata, onde derramou a alma em oração a Deus. Como Jacó em Peniel, de lá não saiu antes de receber a benção divina. Depois daquele dia reconheceu a grande responsabilidade de sua obra; regozijava-se sempre em espírito de oração e surpreendeu-se grandemente com os frutos gloriosos que Deus começou a concede-lhe. Antes dessas coisas acontecerem, possuía dons e corpo de gigante; depois, porém, foi –lhe acrescentado o espírito de gigante. Era corajoso como um leão e humilde como cordeiro; não vivia para si, mas para Cristo. Além de ter, por natureza, uma mente ativa e uma maneira tocante de falar, tinha um coração que transbordava de amor para com Deus e o próximo. Verdadeiramente era uma luz que ardia e brilhava.

No sul de Gales andava a pé, pregando às vezes, cinco sermões num só dia. Apesar de não andar bem vestido e de possuir maneiras desastrosas, grandes multidões afluíam para ouvi-lo. Vivificado com o fogo celestial, “subia” em espírito como se tivesse asas de anjo e quase sempre levava o auditório consigo. Muitas vezes os ouvintes rompiam em choro e vivenciavam outras manifestações, coisas que não podiam evitar. Por isso eram conhecidos como “saltadores galeses”.



Era convicção de Evans que seria melhor evitar os dois extremos: o excesso de ardor e a frieza demasiada. Deus, porém, é um ser soberano e opera de varias maneiras. A alguns Ele atrai pelo amor, enquanto outros Ele espanta com os trovões do Sinai, para acharem preciosa paz em Cristo. Os vacilantes, às vezes, são por Deus sacudidos sobre o abismo da angustia eterna até clamarem pedindo misericórdia e acharem gozo indizível. O cálice desses transbordam até que alguns, não compreendendo, perguntam: “Por que tanto excesso?”


Acerca da censura que faziam aos cultos, Evans escreveu: “Admiro-me de que o gênio mau, chamando-se ‘o anjo da ordem’, queria experimentar tornar tudo, na adoração a Deus, em coisa tão seca como o monte Gilboa. Esses homens da ordem desejam que o orvalho caia e o sol brilhe sobre todas as suas flores, em todos os lugares, menos nos cultos ao Deus todo-poderoso. Nos teatros, nos bares e nas reuniões políticas, os homens comovem-se, entusiasmam-se e são tocados de fogo como qualquer “saltador galês”. Mas segundo eles desejam, não deve haver coisa alguma que dê vida e entusiasmo à religião! Irmãos, meditai nisto! Tendes razão ou estais errados?”

Conta-se que, em certo lugar, havia três pregadores para falar, sendo Evans o último. Era um dia de muito calor. Os primeiros dois sermões foram muito longos, de forma que todos os ouvintes ficaram indiferentes e quase exaustos. Porém, depois de Evans haver pregado cerca de quinze minutos sobre a misericórdia de Deus, tal qual se vê na parábola do filho prodigo, centenas dos que estavam sentados na relva, repentinamente, ficaram em pé. Alguns choravam e outros oravam, sob grande angústia. Foi impossível continuar o sermão: o povo continuou a chorar e a orar durante o dia inteiro, e de noite até o amanhecer.



Na ilha de Anglesey, porém, Evans teve de enfrentar certa doutrina chefiada por um orador eloqüente e instruído. Na luta contra o erro dessa seita (1), começou a esfriar espiritualmente. Depois de alguns anos (2), não mais possuía o espírito de oração e o gozo da vida cristã. Mas ele mesmo descreveu como buscou e recebeu de novo a unção do poder divino que fez a sua alma abrasar-se ainda mais do que antes:
Não podia continuar com o meu coração frio para com Cristo, sua expiação e a obra de seu Espírito. Não suportava o coração frio no púlpito, na oração particular e no estudo, especialmente quando me lembrava de que durante quinze anos o meu coração se abrasava como se eu andasse com Jesus no caminho de Emaús. Chegou o dia, por fim, que nunca mais esquecerei. Na estrada de Dolgelly, senti-me obrigado a orar, apesar de ter o coração endurecido e carnal. Depois de começar a suplicar, senti como que pesados grilhões me caíssem e como que montanhas de gelo se derretessem dentro de mim. Com esta manifestação, aumentou em mim a certeza de ter recebido a promessa do Espírito Santo. Parecia-me que meu espírito inteiro fora solto de uma prisão prolongada, ou como se estivesse saindo do túmulo num inverno muitíssimo frio. Correram-me abundantemente as lágrimas e fui constrangido a clamar e pedir a Deus o gozo da sua salvação, e que Ele visitasse, de novo, as igrejas de Anglesey que estavam sob meus cuidados. Tudo entreguei nas mãos de Cristo... No culto seguinte, senti-me como que removido da região estéril e frígida de gelo espiritual para as terras agradáveis das promessas de Deus. Recomecei, então, os primeiros combates em oração, sentido um forte anelo pela conversão de pecadores, tal como tinha sentido em Leyn. Apoderei-me da promessa de Deus. O resultado foi que vi, ao voltar a casa, o Espírito operar nos irmãos de Anglesey, dando-lhes o espírito de oração com importunação.





O grande avivamento vivido pelo pregador contagiou o povo em todos os lugares da ilha de Anglesey e em todo o principado de Gales. A convicção de pecado, como grandes enchentes, passava sobre os auditórios. O poder do Espírito Santo operava até o povo chorar e dançar de alegria. Um dos que assistiam o seu famoso sermão sobre o endemoninhado gadareno conta que Evans retratou tão fielmente a cena do livramento do pobre endemoninhado, a admiração do povo ao vê-lo liberto, o gozo da esposa e dos filhos quando voltou a casa, curado, que o auditório rompeu em grande riso e choro. Alguém assim se expressou: “O lugar tornou-se um verdadeiro Boquim de Choro (Jz 2.1-5). Outro ainda disse que o auditório ficou como os habitantes de uma cidade abalada por um terremoto, correndo para fora, prostrando-se em terra e clamando a Deus.



Não semeava pouco, portanto colhia abundantemente. Ao ver a abundancia da colheita, sentia seu zelo arder de novo, seu amor aumentar, e era levado a trabalhar ainda mais. A sua firme convicção era de que nem a melhor pessoa pode salvar-se sem a operação do Espírito Santo e nem o coração mais rebelde pode resistir ao poder do mesmo Espírito. Evans sempre tinha um alvo quando lutava em oração: Firmava-se nas promessas de Deus, suplicando coma persistência de que não pode desistir antes de receber. Dizia que a parte mais gloriosa do ministério do pregador era o fato de agradecer a Deus pela operação do Espírito Santo na conversão dos pecadores.





Como vigia fiel, não podia pensar em dormir enquanto a cidade se incendiava. Humilhava-se perante Deus, agonizando pela salvação de pecadores, e de boa vontade gastou suas forças físicas e mentais na fala de seu ultimo sermão – sob o poder de Deus, como de costume. Ao findar disse: “Este é meu último sermão”. Os irmãos entenderam que se referira ao último sermão naquele lugar. Caiu doente, porém, na mesma noite. Na hora da sua morte, três dias depois, dirigiu-se ao pastor, seu hospedeiro, com estas palavras: “O meu gozo e consolação é que, depois de me ocupar na obra do santuário durante cinqüenta e três anos, nunca me faltou ‘sangue na bacia’. Prega Cristo ao povo”. Então, depois de cantar um hino, disse: “Adeus! Adeus!” E faleceu.
A morte de Christmas Evans foi um dos eventos mais solenes de toda a história do principado de Gales. Houve choro e pranto no país inteiro.





O fogo do Espírito Santo fez os sermões desse servo de Deus abrasar de tal forma os corações, que o povo da sua geração não podia ouvir pronunciar o nome de Christmas Evans sem ter uma lembrança vivida do Filho de Maria na manjedoura de Belém; do seu batismo no Jordão; do jardim do Getsêmani; do tribunal de Pilatos; da coroa de espinhos; do monte Calvário; do Filho de Deus imolado no altar, e do fogo santo que consumia todos os holocaustos, desde os dias de Abel até o dia memorável em que esse fogo foi apagado pelo sangue do Cordeiro de Deus.

Postado por Flávio Teodoro
Fonte: Livro Heróis da Fé / p. 89 – 93. Autor: Orlando Boyer / Editora: CPAD
Foto Extraída do site da wikipedia (http://en.wikipedia.org/wiki/Christmas_Evans)

NOTAS:
1. Heresia intitulada “sandemanianismo” que negava a relação existente das emoções e ações da vontade da verdadeira fé salvadora. Essas emoções e ações da vontade poderiam ou não acompanhar a verdadeira fé salvadora, segundo seus defensores. Os defensores dessa aberração afirmavam que somente a fé intelectual era necessária para a salvação. Essa seita começou com um escocês que se chamava John Glas em 1720 e recebeu o nome de sandemanianismo devido o genro de John Glas (Robert Sandeman) ter sido o seu principal propagador.
Christmas Evans não somente lutou contra essa heresia como também foi convencido pela mesma, por isso se deu o seu esfriamento espiritual.
Fonte: Puritanos: suas origens e seus sucessores Editora PES – Autor: D. M. Lloyd Jones - Conferencia Nº 9 do ano de 1967 – titulo “Sandemanianismo” p. 181 – 201.

2. Christmas Evans “esteve debaixo daquele enregelante ensaio do sandemanianismo durante cerca de cinco anos”.
Fonte: Puritanos: suas origens e seus sucessores Editora PES - Autor: D. M. Lloyd Jones. p. 199.

domingo, 20 de maio de 2007

João Paton


Um missionário entre os Antropófagos

(1824 – 1907)



Perto de Dalswinton, na Escócia, morava um casal conhecidos em toda a região como os velhos Adão e Eva. A esse lar veio em visita um sobrinha, Janete Rogerson. Supunha-se que não houvesse muita coisa na casa isolada dos velhos para distrair a jovem, sempre viva e alegre. Mas uma coisa atraiu-lhe o interesse: um rapaz chamado Tiago Paton, que entrava, dia após dia, no matagal perto da casa. Levava sempre um livro na mão, como se ali fosse para estudar e meditar.

Certo dia, a moça, vencida pela curiosidade, entrou furtivamente por entre as árvores e espiou o rapaz recitando os Sonetos Evangélicos, de Erskine. A sua curiosidade tornou-se uma santa admiração quando o jovem, deixando o chapéu no chão, ajoelhou-se debaixo duma árvore para derramar a alma em oração perante Deus. Ela, espírito de brincalhona, avançou e pendurou o chapéu em um galho que estava próximo. Em seguida escondeu-se onde podia, sem ser vista, para presenciar o rapaz perplexo, a procurar o chapéu. No dia seguinte, a cena se repetiu. Mas o coração da moça comoveu-se ao ver a perturbação do rapaz, imóvel por alguns minutos com o chapéu na mão. Foi assim que ele, ao voltar no dia seguinte ao lugar onde se ajoelhava diariamente, achou, preso na árvore, um cartão que continha os seguintes dizeres: “A pessoa que escondeu seu chapéu confessa-se sinceramente arrependida de tê-lo feito e pede que ore, rogando a Deus que a torne crente tão sincera como o senhor”.

O jovem fitou por algum tempo o cartão, esquecendo-se completamente naquele dia dos sonetos. Por fim, tirou o cartão da árvore. No momento em que se reprovava e à sua estupidez por não saber que fora um ser humano quem escondera o chapéu duas vezes, viu passar, por entre as árvores, na frente da casa do velho Adão, uma moça, balde na mão, cantando um hino escocês.
Naquele instante, o moço sabia, por instinto divino, que a visita angélica que invadira seu retiro de oração fora a gentil e hábil sobrinha dos velhos Adão e Eva. Tiago Paton ainda não conhecia Janete Rogerson, mas ouvira falar nas suas extraordinárias qualificações intelectuais e espirituais.

É provável que Tiago Paton começasse a orar pela jovem, mas num sentido diferente daquele que ela pedira. De qualquer forma, a moça furtara não somente o chapéu do rapaz, mas também o seu leal coração – um furto que resultou, por fim, no casamento dos dois. Tiago Paton, fabricante de meias no condado de Dunfries, e sua esposa Janete, andavam, como Zacarias e Isabel na antiguidade, irrepreensíveis perante o Senhor. Ao nascer-lhes o primogênito, deram-lhe o nome de João, dedicando-o solenemente a Deus, com oração, para ser missionário aos povos que não tinham oportunidade de conhecer a Cristo. Entre a casa própria em que morava a família dos Paton e a parte que servia de fábrica havia um pequeno aposento.

Acerca desse quarto, João Paton escreveu:
“era o santuário de nossa humilde casa. Várias vezes ao dia, geralmente depois das refeições, o nosso pai entrava nesse quarto e, “fechada a porta”, orava. Nós, seus filhos, compreendíamos, como se fosse por instinto espiritual, que se derramavam orações por nós, como fazia na antiguidade o sumo sacerdote, quando entrava no Santo dos Santos, em favor do povo. De vez em quando se ouvia o eco duma voz em tons de quem suplica pela vida; passávamos pela porta nas pontinhas dos pés, de modo a não perturbar a santa e intima conversação. O mundo lá fora não sabia de onde vinha o gozo que brilhava no rosto de nosso pai, mas nós, seus filhos, o sabíamos: era o reflexo da presença divina, que era sempre uma realidade para ele na vida cotidiana.
Nunca espero, quer num templo, quer nas serras, quer nos vales, sentir Deus mais perto, mas visível, andando e conversando mais intimamente com os homens do que naquela humilde casa coberta de palha. Se, por uma catástrofe indizível, tudo quanto pertence à religião fosse apagado da memória, minha alma reverteria de novo ao tempo da minha mocidade: ela fechar-se-ia naquele santuário e, ao ouvir novamente os ecos daquelas súplicas a Deus, lançaria para longe todo a duvida com este grito vitorioso: Meu pai andava com Deus; por que não posso eu também andar?”


Na autobiografia de João Paton, vê se que as suas lutas diárias eram grandes. Mas o que lemos abaixo revela qual a força que operava para que ele sempre avançasse na obra de Deus.

Antes, realizava-se culto domestico na casa de meus avós somente aos domingos, mas meu pai convenceu primeiro a minha avó a orar, ler um trecho da bíblia e cantar um hino diariamente, pela manhã e à noite; depois todos os membros da família seguiram esse costume. Foi assim que meu pai começou, aos 17 anos de idade, o bendito costume de fazer cultos matutinos e vespertinos em casa; costume que observou, talvez sem uma única exceção, até se achar no leito de morte, com 77 anos de idade. No último dia da sua vida, uma passagem das Escrituras foi lida, e ouvindo-se a sua voz na oração".

Nenhum dos filhos se recorda de um só dia que não fosse assim santificado. Muitas das vezes avia pressa em atender a um negócio; inúmeras vezes chegavam os amigos. Mas nada impedia que nos ajoelhássemos em redor do altar familiar, enquanto o “sumo sacerdote” dirigia as nossas orações a Deus e se oferecia a si mesmo e a seus filhos ao mesmo Senhor. A luz de tal exemplo era uma benção, tanto para o próximo, como para a nossa família. Muitos anos depois, contaram-me que a mais depravada mulher da vila, uma mulher da rua, declarou que a única coisa que evitou o seu suicídio foi que, numa noite escura, perto da janela da casa de meu pai, ouviu-o implorando, no culto doméstico, que Deus convertesse “o ímpio do erro do seu caminho e o fizesse luzir como uma jóia na coroa do Redentor”. “Vi”, disse ela, “como era um grande peso sobre o coração desse bom homem e sabia que Deus responderia à sua súplica. Foi por causa dessa certeza que não entrei no inferno e que achei o único Salvador”. Por meio desse ocorrido, a mulher foi salva e transformada pela graça divina”.


Não é de admirar que, em tal ambiente, três dos onze filhos de Tiago Paton – João, Valter e Tiago – fossem constrangidos a dar suas vidas à obra mais gloriosa, a de ganhar almas. Não julgamos estar esse ponto completo sem lhe acrescentar mais um trecho dessa autobiografia:

“Até que ponto fui impressionado nesse tempo pelas orações de meu pai, não posso dizer, nem ninguém pode compreender. Quando de joelhos, e todos nós ajoelhamos em redor dele no culto doméstico, ele derramava toda a sua alma em oração, com lágrimas – não só por todas as necessidades pessoais e domésticas, mas também pela conversão da parte do mundo onde não havia pregadores para servirem a Jesus -, sentíamo-nos na presença do Salvador vivo e chegamos a conhecê-lo e a amá-lo como nosso Amigo divino. Ao levantarmo-nos da oração, costumava olhar para a luz do rosto do meu pai e cobiçava o mesmo espírito; anelava, em resposta às suas orações, a oportunidade de me preparar e sair, levando o bendito Evangelho a uma parte do mundo então sem missionários”.

Acerca da disciplina do lar, eis o que ele escreveu:

“Se houvesse algo realmente sério para corrigir, meu pai se retirava primeiramente para o quarto de oração e nós compreendíamos que ele levava o caso a Deus. Essa era a parte mais severa do castigo para mim! Eu estava pronto a encarar qualquer penalidade, mas o que ele fazia penetrava na minha consciência como uma mensagem de Deus. Amávamos ainda mais o nosso pai ao ver o quanto tinha de sofrer para nos castigar, e, de fato, tinha muito pouco a nos castigar, pois dirigia a todos nós, onze filhos, muito mais pelo amor do que pelo temor”.

Por fim chegou o dia em que João tinha que deixar o lar paterno. Sem o dinheiro para passagem e com tudo o que possuía, inclusive uma Bíblia embrulhada num lenço, saiu a pé para trabalhar e estudar em Glasgow. O pai o acompanhou até uma distancia de nove quilômetros. No último quilômetro, antes de se separarem um do outro, os dois caminhavam sem poder falar uma palavra, mas o filho sabia, pelo movimento dos lábios do pai, que este orava em seu coração por ele. Chegando ao lugar combinado onde se separariam, o pai balbuciou: “Deus te abençoe, meu filho! O Deus de teu pai te prospere e te guarde de todo o mal”. Depois de se abraçarem, o filho saiu correndo, enquanto o pai, em pé no meio da estrada, imóvel, com o chapéu na mão e lágrimas correndo pelas faces, continuava a orar em seu coração. Alguns anos depois, o filho testificou de que essa cena, gravada da sua alma, o estimulava como um fogo inextinguível a não desapontar o pai no que esperava dele, seu filho, que seguisse o seu bendito exemplo de andar com Deus.

Durante os três anos de estudos em Glasgow, apesar de trabalhar com as próprias mãos para se sustentar, João Paton, no gozo do Espírito Santo, fez uma grande obra na seara do Senhor. Contudo, soava-lhe constantemente aos ouvidos o clamor dos selvagens nas ilhas do Pacifico e isso foi, antes de tudo, o assunto que ocupava as suas meditações e orações diárias. Havia outros para continuar a obra que fazia em Glasgow, mas quem desejava levar o Evangelho a esses pobres bárbaros?

Ao declarar sua resolução de trabalhar entre os canibais das Novas Hébridas, quase todos os membros da sua igreja se opuseram à sua saída. Um muito estimado irmão assim se exprimiu: “Entre os antropófagos! Será comido por eles!” A isso João Paton respondeu: “O irmão é muito mais velho que eu, breve será sepultado e comido por vermes. Declaro ao irmão que, se eu conseguir viver e morrer servindo ao Senhor Jesus e honrando o seu nome, não me importarei ser comido por antropófagos ou por vermes. No grande dia da ressurreição, o meu corpo se levantará tão belo como o seu, na semelhança do Redentor ressuscitado”.

De fato, as Novas Hébridas haviam sido batizadas com sangue de mártires. Os dois missionários, William e Harris, enviados para evangelizar essas ilhas, poucos anos antes desse tempo, foram mortos a cacetadas, e seus cadáveres cozidos e comidos. “Os pobres selvagens não sabiam que assassinavam seus amigos mais fieis; assim, os crentes em todos os lugares, ao receberem as notícias do martírio dos dois, oraram com lagrimas por esses povos”.

E Deus ouviu as súplicas, chamando, entre outros, a João Paton. Mas a oposição a sua saída era tal, que ele resolveu escrever a seus pais e, pela resposta, veio a saber que eles o haviam dedicado para tal serviço no dia do seu nascimento. Desde esse momento, João Paton não mais duvidou da vontade de Deus, e assentou no seu coração gastar a vida servindo aos indígenas das ilhas do Pacífico.

O nosso herói conta muitas coisas de interesse a acerca da longa viagem à vela para as Novas Hébridas. Quase no fim da viagem, quebrou-se o mastro do navio. As águas os levavam lentamente para Tana, uma ilha de antropófagos, onde a bagagem teria sido saqueada e todos a bordo cozidos. Contudo, Deus ouviu suas suplicas e os fizeram alcançar uma outra ilha. Alguns meses depois, foram à mesma ilha de Tana, onde conseguiram comprar o terreno dos silvícolas e edificar uma casa. Comove o coração ler que construíram a casa sobre os mesmos alicerces lançados pelo missionário Turner, quinze anos antes, o qual teve de fugir da ilha para escapar de ser morto e comido pelos selvagens.

Acerca da sua primeira impressão sobre o povo, Paton escreveu:

“Fui levado ao maior desespero. Ao vê-los na sua nudez e miséria, senti tanto horror como compaixão. Eu tinha deixado a obra entre os amados irmãos em Glasgow, obra em que sentia muito gozo, para dedicar-me a criaturas tão degeneradas. Perguntei-me a mim mesmo: É possível ensiná-las a distinguir entre o bem e o mal, e levá-los a Cristo, ou mesmo a civilizá-lás? Mas tudo isso eram apenas sentimentos passageiros. Logo senti um desejo tão profundo de levá-los ao conhecimento e amor de Jesus, como jamais quando trabalhava em Glasgow”.


Antes de completar a casa em que o casal Paton iria morar, houve uma batalha entre duas tribos. As mulheres e crianças fugiram para a praia, onde conversavam e riam ruidosamente, como se seus pais e irmãos estivessem ocupados em algum trabalho pacífico. Mas enquanto os selvagens gritavam e se empenhavam em conflitos sangrentos, os missionários entregavam-se à oração por eles. Os cadáveres dos mortos foram levados pelos vencedores a uma fonte de água fervente, onde foram cozidos e comidos. Á noite ainda se ouvia pranto e gritos prolongados nas vilas em redor. Os missionários foram informados de que um guerreiro, ferido na batalha, acabara de morrer em casa. A sua viúva foi estrangulada imediatamente, conforme o costume, para que seu espírito acompanhasse o do marido e lhe continuasse a servir de escrava.`
Os missionários, então, nesse ambiente da mais repugnante superstição, da mais baixa crueldade e da mais flagrante imoralidade, esforçavam-se para aprender a usar a todas as palavras possíveis desse povo que não conhecia a escrita. Anelavam falar de Jesus e do amor de Deus a esses seres que adoravam árvores, pedras, fontes, riachos, insetos, espíritos dos homens falecidos, relíquias de cabelos e unhas, astros, vulcões, etc. A esposa de Paton era uma ajudadora esforçada e, dentro de poucas semanas, reuniu oito mulheres da ilha a quem instruía diariamente. Três meses depois da chegada dos missionários à ilha, a esposa de Paton faleceu de malária e, um mês depois, o filhinho também morreu.

Quem pode avaliar as saudades de Paton durante os anos que trabalhou sem ajudadora em Tana? Apesar de quase haver morrido também da mesma enfermidade, de os crentes insistirem para que voltasse à sua terra, e de os indígenas fazerem plano após plano de matá-lo, esse herói permaneceu orando e trabalhando fielmente no posto onde Deus o colocara. Um templo foi construído e um bom número se congregava para ouvir a mensagem divina. Paton não somente conseguiu reduzir a língua dos tanianos à forma escrita, mas também traduziu uma parte das Escrituras, a qual imprimiu, apesar de não conhecer a arte tipográfica. Acerca da gloriosa façanha de imprimir o livro em taniano, assim escreveu:

Confesso que gritei de alegria quando a primeira folha sai do prelo, tendo todas as páginas na ordem própria. Era uma hora da madrugada, eu era o único homem branco na ilha e havia horas em que todos os nativos dormiam. Contudo, atirei ao ar o chapéu e dancei como um menino, por algum tempo, ao redor do prelo.
Terei eu perdido a razão? Não devia, como missionário, estar de joelhos louvando a Deus por mais esta prova de sua graça? Crede, amigos, o meu culto foi tão sincero como o de Davi, quando dançou diante da arca do seu Deus! Não deveis pensar que, depois de pronta a primeira página, eu não me tivesse ajoelhado pedindo ao Todo-Poderoso que propagasse a luz e a alegria do seu Santo Livro nos corações entenebrecidos dos habitantes daquela terra inculta”.


Depois de Paton haver passado três anos em Tana, o casal de missionários que vivia na ilha vizinha, Erromanga, foi martirizado barbaramente a machadadas, em pleno dia. Ao completar quatro anos de estada em Tana, o ódio dos indígenas dessa ilha chegou ao auge. Diversas tribos combinaram matar o “indefeso” missionário e findar, assim, com a religião do Deus de amor, em toda a ilha. Contudo, como ele mesmo se declarava “imortal até findar sua obra na terra”, evitava, em pleno campo, os inúmeros golpes de lanças, machadinhas e cacetes, armados pelas mãos dos indígenas. E assim conseguiu escapar para a ilha de Aneitium.
Planejou então ocupar-se na obra de tradução do resto dos evangelhos na língua taniana, enquanto esperava a oportunidade de voltar a Tana. Porém, sentiu-se dirigido a aceitar a chamada para ir à Austrália. Em poucos meses, animou as igrejas ali a comprarem um navio a vela para servir aos missionários. Despertou-as, também, a contribuírem liberalmente e a enviarem mais missionários a evangelizar todas as ilhas.


Acerca da sua viagem à Escócia, depois de alguns anos nas Novas Hébridas, ele escreveu:

“Fui de trem a Dunfries e lá achei condução para o querido lar paterno, onde fui acolhido com muitas lagrimas. Havia somente cinco curtíssimos anos que saíra desse santuário com a minha jovem esposa, e agora, ai de mim! Mãe e filhinho jazem no túmulo, em Tana, nos braços um do outro, até o dia da ressurreição... Não foi com menos gozo, apesar de sentir-me angustiado, que, poucos dias depois, encontrei-me com os pais da minha querida falecida esposa”.

Antes de deixar a Escócia para nova viagem, Paton casou-se com a irmã de outro missionário. Chamada por Deus a trabalhar entre os povos mergulhados nas trevas das Novas Hébridas, ela serviu como fiel companheira de seu marido por muitos anos.


“Meu último ato na Escócia foi ajoelhar-me no lar paterno, durante o culto doméstico, enquanto meu venerado pai, como sacerdote, de cabelos brancos, nos entregava, uma vez mais, “aos cuidados e proteção de Deus, Senhor das famílias de Israel”. Eu tinha por certo, quando nos levantamos da oração e nos despedimos uns dos outro, que não encontraríamos com eles antes do dia da ressurreição. Porém, ele e minha querida mãe, com corações alegres, nos ofertaram de novo ao Senhor para o seu serviço entre os silvícolas. Mais tarde, meu querido irmão me escreveu que a “espada” que traspassara a alma da minha mãe era demasiado aguda e que, depois da nossa saída, ela jazeu por muito tempo como morta, nos braços de meu pai”.

Prestes a regressar as ilhas, Paton foi constrangido pelo voto de todos os missionários a não voltar a Tana, mas abrir a obra na vizinha ilha de Aniwa. Dessa forma, tinha de aprender outra língua e começar tudo de novo. Na tarefa de preparar o terreno para a construção da casa em seu novo habitat, Paton ajuntou dois cestos de ossos humanos de vitimas comidas pelo povo da ilha!

“Quando essas pobres criaturas começavam a usar um pedacinho de chita, ou um saiote, era sinal exterior de uma transformação, apesar de estarem longe da civilização. E quando começavam a olhar para cima, e a orar Àquele a quem chamavam de ‘Pai, nosso Pai’, meu coração se derretia em lágrimas de gozo; e sei, por certo, que havia um coração divino nos céus que se regozijava também”.


Contudo, como em Tana, Paton considerava-se imortal até completar a obra que lhe fora designada por Deus. Inúmeras vezes evitou a morte agarrando a arma levantada pelos selvagens contra ele, a fim de o matarem. Tempos depois, a força das trevas unidas contra o Evangelho em Aniwa cedeu. Isso data do tempo em que cavou um poço na ilha. Para os indígenas, a água de coco, para satisfazer a sede, era suficiente, porque se banhavam no mar e usavam pouco a água para cozinhar – e nenhuma para lavar a roupa! Mas para os missionários, a falta de água doce era o maior sacrifício. Por isso Paton resolveu cavar um poço.

No inicio os indígenas o auxiliaram na obra, apesar de considerarem o plano “do Deus de Missi dar chuva de baixo” uma concepção nada lúcida. Mas depois, amedrontados pela profundeza da cavidade, deixaram o missionário a cavar sozinho, dia após dia, enquanto o contemplavam de longe, dizendo uns aos outros: “Quem jamais ouviu falar em chuva que vem debaixo?! Pobre Missi! Coitado!” Quando o missionário insistia em dizer que o abastecimento de água em muitos países vinha de poços, eles respondiam: “É assim que se dá com os doidos; ninguém pode desviá-los de suas idéias loucas”.
Depois de longos dias de labor enfadonho Paton alcançou terra úmida. Confiava em Deus para obter água doce, em resposta às suas orações. Contudo, nessa altura, ao meditar sobre o efeito que causaria entre o povo o fato de encontrar água salgada, sentia-se quase que tomado de horror. “Sentia-me”, escreveu ele, “tão comovido que fiquei molhado de suor e tremia-me todo o corpo, quando a água começou a borbulhar debaixo e a encher o poço. Tomei um pouco de água na mão, levei-a à boca para prová-la. Era água! Era água potável! Era água viva do poço de Jeová!

Os chefes indígenas, com seus homens, a tudo assistiam. Era uma repetição, em escala reduzida, do episodio em que os israelitas rodearam Moisés quando ele fez água sair da rocha. O missionário, depois de passar algum tempo louvando a Deus, ficou mais calmo, desceu novamente, encheu um jarro da “chuva que Deus Jeová lhe dava pelo poço” e entregou-o ao chefe. Este sacudiu o jarro para ver se realmente havia água dentro; então tomou um pouco na mão e, não satisfeito com isso, levou à boca um pouco mais. Depois de revolver os olhos de alegria, bebeu-a e rompeu em gritos: “Chuva! Chuva! É chuva mesmo! Mas como a arranjou?” Paton respondeu? “Foi Jeová, meu Deus, quem a deu da sua terra, em resposta ao nosso labor e orações. Olhai e vede por vós mesmos como borbulha a terra!”

Não havia um homem entre eles que tivesse coragem de chegar perto da boca do poço. Então formaram uma fila comprida e, segurando-se uns aos outros pelas mãos, avançaram até que o homem da frente pudesse olhar para dentro do poço. A seguir, o que tinha olhado passava para a retaguarda, deixando o segundo olhar para a “chuva de Jeová, mui embaixo”.
Depois de todos olharem, um por um, o chefe dirigiu-se a Paton e disse: “Missi, a obra de seu Deus Jeová é admirável, é maravilhosa! Nenhum dos deuses de Aniwa jamais nos abençoou tão maravilhosamente. Mas, Missi, Ele continuará para sempre a dar chuva por essa forma ou acontecerá como a chuva das nuvens?” O missionário explicou, para gozo indizível de todos, que essa benção era permanente e para todos os aniwanianos.

Durante os anos que se seguiram, os nativos experimentaram cavar poços em seis ou sete dos lugares mais prováveis, perto de várias vilas. Todas as vezes que o fizeram, ou encontraram pederneira ou o poço dava água salgada. Diziam entre si:
“Sabemos cavar, mas não sabemos orar como o Missi e, portanto, Jeová não nos dá chuva debaixo!”
Num domingo, depois que Paton alcançou água do poço, o chefe Namakei convocou o povo da ilha. Fazendo seus gestos com a machadinha na mão, dirigiu-se aos ouvintes da seguinte maneira:

“Amigos de Namakei, todos os poderes do mundo não podiam obrigar-nos a crer que fosse possível receber chuva das entranhas da terra, se não a tivéssemos visto com os próprios olhos e provado com a boca... Desde já, meu povo, deve adorar ao Deus que nos abriu o poço e nos dá chuva debaixo. Os deuses de Aniwa não pode socorrer-nos como o Deus de Missi. Para todo o sempre sou um seguidor de Deus Jeová. Todos vós que quiserdes fazer o mesmo, tomai os ídolos de Aniwa, os deuses que nossos pais temiam, e lançai-os aos pés de Missi... Vamos a Missi para ele nos ensinar como devemos servir a Jeová... que enviou seu Filho Jesus para morrer por nós e nos levar aos céus”.

Durante os dias que se seguiram, grupo após grupo dos silvícolas, alguns com lágrimas e soluços, outros aos gritos de louvor a Jeová, levaram seus ídolos de pau e pedra perante o missionário. Reunidos em montes, os ídolos de pau foram queimados, os de pedra enterrados em covas de quatro a cinco metros de profundidade e alguns, de maior superstição, foram lançados no fundo do mar, longe da terra.
Um dos primeiros passos da vida cotidiana da ilha, depois da destruição dos ídolos, foi a invocação da benção do Senhor às refeições. O segundo passo – uma surpresa maior e que também encheu o missionário de gozo – foi um acordo entre eles de fazer culto domestico de manhã e à noite. Sem duvida, esses cultos eram misturados, por algum tempo, com muitas das superstições do paganismo. Mas Paton traduziu as Escrituras, imprimiu-as na língua aniwaniana e ensinou o povo a lê-las.

A transformação do povo da ilha foi uma das maravilhas dos tempos modernos. Como arde o coração ao ler acerca da ternura que o missionário sentia para com esses amados filhos na fé, e do carinho com que esses, outrora cruéis selvagens que comiam carne humana, mostravam para com o missionário!
Que o nosso coração arda também para ver a mesma transformação dos milhares de indígenas no interior de nosso querido Brasil!

Paton descreveu a primeira Ceia do Senhor com as seguintes palavras:

“Ao colocar o pão e o vinho nas mãos, outrora manchadas do sangue da antropofagia, agora estendidas para receber e participar dos emblemas do amor do Redentor, antecipei o gozo da glória até o ponto de o coração não suportar mais. É-me impossível experimentar delicia maior antes de eu poder fitar o rosto glorificado do próprio Senhor Jesus Cristo!”


Deus não somente concedeu ao nosso herói o indizível gozo de ver os aniwanianos evangelizando as ilhas vizinhas, mas também de ver seu próprio filho, Frank Paton, e esposa, morando na ilha de Tana e dando prosseguimento à obra que ele começara com o maior sacrifício. Foi com a idade de 83 anos que João G. Paton ouviu a voz de seu precioso Jesus chamando-o para o lar eterno. Quão grande o seu gozo, não somente ao reunir-se aos seus queridos filhos da ilhas do sul do Pacífico que entraram no céu antes dele, mas, também, saudar com um “bem-vindo” os demais quando chegarem ali, um por um!


Fonte: Livro Heróis da Fé / p. 151-163
Autor: Orlando Boyer / Editora: CPAD
Imagem retirada do site www.wholesomewords.org

segunda-feira, 16 de abril de 2007

David Brainerd


Um Arauto de Jesus aos Peles-Vermelhas
(1718 – 1747)




Certo jovem franzino de corpo, mas tendo na alma o fogo do amor aceso por Deus, encontrou-se na floresta, para ele desconhecida. Era tarde e o sol já declinava até quase desaparecer no horizonte, quando o viajante, enfadado da longa viagem, avistou a fumaça das fogueiras dos índios peles-vermelhas. Depois de apear e amarrar seu cavalo, deitou-se no chão para passar a noite, agonizando em oração. Sem ele o saber, alguns dos silvícolas o haviam seguido silenciosamente, como serpentes, durante a tarde. Agora estacionavam atrás dos troncos das arvores para contemplar a cena misteriosa de um vulto de cara pálida, sozinho, prostrado no chão, clamando a Deus.


Os guerreiros da vila resolveram matá-lo, sem demora, pois acreditavam que os brancos davam uma aguardente aos peles-vermelhas para, enquanto bêbados, levar-lhes as cestas e as peles de animais, e ainda roubar-lhes as terras. Mas depois de cercarem furtivamente o missionário, que orava, prostrado, e o ouvirem clamando ao "Grande Espírito", insistindo que lhes salvasse a alma, eles partiram tão secretamente como chegaram. No dia seguinte o moço, não sabendo o que acontecera em redor enquanto orava no ermo, foi recebido na vila de uma maneira não esperada. No espaço aberto entre as wigwams (barracas de peles), os índios cercaram o moço que, com o amor de Deus ardendo na alma, leu o capitulo 53 de Isaías. Enquanto pregava, Deus respondeu a sua oração da noite anterior e os silvícolas ouviram o sermão com lagrimas nos olhos.


Esse cara pálida chamava-se Davi Brainerd. Nasceu em 20 de abril de 1718. Perdeu o pai aos 9 anos de idade, e a mãe, filha dum pregador, aos 14 anos. Acerca de sua luta com Deus, no tempo da sua conversão – tinha então 20 anos de idade -, ele escreveu:

"Designei um dia para jejuar e orar, e passei esse dia clamando quase incessantemente a Deus. Pedi-lhe misericórdia e que abrisse meus olhos para a enormidade do pecado e o caminho para a vida em Jesus Cristo... Contudo, continuei a confiar nas boas obras... Então, uma noite, andando na roça, me foi dada uma visão da grandeza do meu pecado, parecendo-me que a terra se abrira por debaixo de meus pés para me sepultar e que a minha alma iria chegar ao inferno antes de eu chegar em casa...
Certo dia, enquanto longe no colégio, no campo, sozinho em oração, senti tanto gozo e doçura em Deus, que, se eu devesse ficar neste mundo vil, queria permanecer contemplando a glória de Deus. Senti na alma um profundo amor ardente para com todos os homens e anelava que eles desfrutassem desse mesmo amor.
No mês de agosto, depois, senti-me tão fraco e doente, como resultado de aplicar-me demais aos estudos, que o diretor do colégio me aconselhou a voltar para casa. Estava tão fraco que tive algumas hemorragias. Senti-me perto da morte, mas Deus renovou em mim o conhecimento e o gozo das coisas divinas. Anelava tanto a presença de Deus e ficar livre do pecado, que, ao melhorar, preferia morrer a voltar ao colégio, e me afastar de Deus... Oh! Uma hora com Deus excede infinitamente todos os prazeres do mundo".


De fato, depois de voltar ao colégio, Brainerd esfriou em espírito, mas o "Grande Avivamento" dessa época alcançou a cidade de New Haven, o colégio de Yale e o coração de Davi Brainerd. Ele tinha o costume de escrever diariamente uma relação dos acontecimentos mais importantes da sua vida, e é por esses diários que sabemos da sua vida intima de profunda comunhão com Deus. Os poucos trechos seguintes servem como amostras do que ele deixou registrado e revelam algo de sua luta com Deus, enquanto estudava para o ministério:

"Fui tomado repentinamente pelo horror de minha miséria. Então clamei a Deus, pedindo que me purificasse da minha estrema imundícia. Depois a oração se tornou mui preciosa para mim. Ofereci-me alegremente para passar os maiores sofrimentos pela causa de Cristo, mesmo que fosse para ser desterrado entra os pagãos, desde que pudesse ganhar suas almas. Então Deus me deu o espírito de lutar em oração pelo reino de Cristo no mundo.

Retirei-me cedo, de manhã, para a floresta, e foi-me concedido fervor em rogar pelo avanço do reino de Cristo no mundo. Ao meio-dia, ainda combatia em oração a Deus e sentia o poder do divino amor na intercessão. Passei o dia em jejum e oração, implorando para que Deus me preparasse para o ministério, me concedesse auxilio divino e direção, e me enviasse para a seara no dia designado por Ele. Pela manhã, senti poder na intercessão pelas almas imortais e pelo progresso do reino do querido Senhor e Salvador no Mundo... À tarde, Deus estava comigo de verdade. Quão bendita a sua companhia! Ele me concedeu agonizar em oração até ficar com a roupa encharcada de suor, apesar de eu me achar na sombra, e de soprar um vento fresco. Sentia a minha alma grandemente extenuada pela condição do mundo: esforçava-me para arrebatar multidões de almas. Sentia-me mais dilatado pelos pecadores do que pelos filhos de Deus, contudo anelava gastar minha vida clamando por ambos.

Passei duas horas agonizando pelas almas imortais. Apesar de ser ainda muito cedo, meu corpo estava molhado de suor... Se eu tivesse mil vidas, a minha alma as teria dado pelo gozo de estar com Cristo...
Dediquei o dia para jejuar e orar, implorando a Deus que me dirigisse e me abençoasse na grande obra que tenho perante mim, a de pregar o Evangelho. Ao anoitecer, o Senhor me visitou maravilhosamente na oração; senti a minha alma angustiada como nunca... Senti tanta agonia que me achava ensopado de suor. Oh! Jesus suou sangue pelas pobres almas! Eu anelava mostrar mais e mais compaixão para com eles. Cheguei a saber que as autoridades esperavam a oportunidade de me prender e encarcerar por ter pregado em New Haven. Fiquei mais sóbrio e abandonei toda a esperança de travar amizade com o mundo. Retirei-me para um lugar oculto na floresta e coloquei o caso perante Deus".


Completados os seus estudos para o ministério, ele escreveu: "Preguei o sermão de despedida ontem à noite. Hoje, pela manhã, orei em quase todos os lugares por onde andei, e, depois de me despedir dos amigos, iniciei a viagem para o habitat dos índios".
Essas notas revelam, em parte, a sua luta com Deus enquanto estudava para o ministério. Um dos melhores pregadores atuais, referindo-se a esse diário, declarou: "Foi Brainerd quem me ensinou a jejuar e orar. Cheguei saber que se fazem maiores coisas por meio de contato cotidiano com Deus do que por pregações".

No inicio da historia da vida de Brainerd, já relatamos como Deus lhe concedeu entrada entre os silvícolas, em resposta a uma noite de oração nas profundezas da floresta. Mas, apesar de os índios lhe darem toda a hospitalidade, concedendo-lhe um lugar pra dormir sobre um pouco de palha e ouvirem o sermão, comovidos, Brainerd não estava satisfeito, e continuava a lutar em oração, como revela seu diário:

"Continuo a sentir-me angustiado. À tarde preguei ao povo, ma fiquei mais desanimado acerca do trabalho do que antes; receio que seja impossível alcançar as almas. Retirei-me e derramei a minha alma pedindo misericórdia, mas sem sentir alívio.
Completo 25 anos de idade hoje. Dói-me a alma ao pensar que vivi tão pouco para a glória de Deus. Passei o dia na floresta sozinho, derramando a minha queixa perante o Senhor.


Cerca das 9 horas, saí para orar na mata. Depois do meio-dia, percebi que os índios estavam se preparando para uma festa e uma dança... Em oração, senti o poder de Deus e a minha alma extenuada como nunca antes na minha vida. Senti tanta agonia e insisti com tanta veemência que, ao levantar-me, só consegui andar com dificuldade. O suor corria-me pelo rosto e pelo corpo. Reconheci que os pobres índios se reuniam para adorar demônios e não a Deus; esse foi o motivo de eu clamar ao Senhor que se apressasse em frustrar a reunião idolatra.


Assim, passei a tarde orando incessantemente, pedindo o auxílio divino para que eu não confiasse em mim mesmo. O que experimentei, enquanto orava, foi maravilhoso. Parecia-me não haver nada de importante em mim, a não ser a santidade de coração e vida, e o anelo pela conversão dos pagãos a Deus. Desapareceram todos os cuidados, receios e anelos; todos juntos pareciam-me de menor importância que o sopro do vento. Anelava que Deus adquirisse pra si um nome entre os pagãos, e lhe fiz o meu apelo com a maior ousadia, insistindo em que Ele reconhecesse que "eu o preferia a minha maior alegria". De fato, não me importava onde ou como morava, nem a fatiga que tinha de suportar, se pudesse ganhar almas para Cristo. Continuei assim toda a tarde e toda a noite".



Assim revestido, Brainerd, pela manhã, voltou da mata para enfrentar os índios, certo de que Deus estava com ele, como estivera com Elias no monte Carmelo. Ao insistir com os índios para que abandonassem a dança, eles, em vez de matá-lo, desistiram da orgia e ouviram a sua pregação, de manhã e à tarde.

Depois de sofrer como poucos sofrem, depois de se esforçar de noite e de dia, depois de passar horas inúmeras em jejum e oração, depois de pregar a Palavra "a tempo e fora de tempo", por fim, abriram-se os céus e caiu o fogo. Os seguintes excertos do seu diário descrevem algumas dessas experiências gloriosas:

"Passei a maior parte do dia em oração, pedindo que o Espírito fosse derramado sobre o meu povo... Orei e louvei com grande ousadia, sentido grande peso pela salvação das preciosas almas.
Discursei à multidão extemporaneamente sobre Isaías 53.10: "Todavia, ao Senhor agradou moê-lo". Muitos dos ouvintes entre a multidão de 3 a 4 mil, ficaram comovidos a ponto de haver um "grande pranto, como o pranto de Hadadrimom". [Ver Zacarias 12:11].


Enquanto eu andava a cavalo, antes de chegar ao lugar para pregar, senti o meu espírito restaurado e a minha alma revestida com poder para clamar a Deus, quase sem cessar, por muitos quilômetros a fio.

De manhã, discursei aos índios onde nos hospedamos. Muitos ficaram comovidos e, ao falar-lhes acerca da salvação da sua alma, as lágrimas correram abundantemente e eles começaram a soluçar e a gemer. À tarde, voltei ao lugar onde lhes costumava pregar; eles ouviram com a maior atenção quase até o fim. Nem a décima parte dos ouvintes pôde conter-se de derramar lágrimas e clamar amargamente. Quanto mais eu falava do amor e compaixão de Deus, ao enviar seu Filho para sofrer pelos pecados dos homens, tanto mais aumentava a angustia dos ouvintes. Foi para mim uma surpresa notar como seus corações pareciam transpassados pelo terno e comovente convite do Evangelho, antes de eu proferir uma única palavra de terror.

Preguei aos índios sobre Isaías 53:3-10. Muito poder acompanhava a Palavra e houve grande convicção entre os ouvintes; contudo, não tão geral como no dia anterior. Mas a maioria ficou comovida e em grande angústia de alma; alguns não podiam caminhar, nem ficar em pé: caíam no chão como se tivessem o coração transpassado e clamavam sem cessar, pedindo misericórdia... Os que vieram de lugares distantes foram levados logo à convicção, pelo Espírito de Deus.

À tarde, preguei sobre Lucas 15:16-23. Havia muita convicção visível entre os ouvintes, enquanto eu discursava; mas, ao falar particularmente, depois, a alguns que se mostravam comovidos, o poder de Deus desceu sobre o auditório como um vento veemente e impetuoso e varreu tudo de uma maneira espetacular.

Fiquei em pé, admirado da influencia que se apoderou do auditório quase totalmente. Parecia, mais que qualquer outra coisa, a força irresistível de uma grande correnteza, ou dilúvio crescente, que derrubava e varria tudo o que encontrava na frente.
Quase todos oravam e clamavam, pedindo misericórdia, e muitos não podiam ficar em pé. A convicção que cada um sentiu foi tão grande, que pareciam ignorar por completo os outros em redor, mas cada um continuava a orar por si mesmo.

Lembrei-me de Zacarias 12:10-12, porque havia grande pranto como o pranto de Hadadrimom, parecendo que cada um pranteava à parte.
Parecia-me um dia muito semelhante ao dia em que Deus mostrou seu poder a Josué (Js 10:14), porque era um dia diferente de qualquer dia que tinha presenciado antes, um dia em que Deus fez muito pára destruir o reino das trevas entre esse povo".




É difícil reconhecer a magnitude da obra de Davi Brainerd entre as diversas tribos de índios, nas profundezas das florestas; ele não entendia seus idiomas. Se lhes transmitia a mensagem de Deus ao coração, deveria achar alguém que pudesse servir como intérprete. Passava dias inteiros simplesmente orando para que viesse sobre ele o poder do Espírito Santo com tanto poder, que esse povo não pudesse resistir à mensagem. Certa vez teve que pregar por meio de um interprete tão bêbado, que quase não podia ficar em pé, contudo, dezenas de almas foram convertidas por meio desse sermão.

Ele andava, às vezes, perdido de noite no ermo, apanhando chuva e atravessando montanhas e pântanos. Franzino de corpo, cansava-se nas viagens. Tinha de suportar o calor do verão e o intenso frio do inverno. Dias a fio passava-os com fome. Já começava a sentir a saúde abalada e estava a ponto de casar-se – sua noiva era Jerusa Edwards, filha de Jônatas Edwards – e estabelecer um lar entre índios convertidos, ou voltar e aceitar o pastorado de uma igreja que o convidava. Porém, reconhecia que não podia viver, por causa da sua doença, mais que um ou dois anos, e resolveu então "arder até o fim".
Assim, depois de ganhar a vitoria em oração, clamou:


"Eis-me aqui, Senhor, envia-me a mim até os confins da terra; envia-me aos selvagens do ermo; envia-me para longe de tudo que se chama conforto da terra; envia-me mesmo para a morte, se for no teu serviço e para promover o teu reino...
Adeus, amigos e confortos terrestres, mesmo os mais anelados de todos. Se o Senhor quiser, gastarei a minha vida, até os últimos momentos, em cavernas e covas da terra, se isso servir para o progresso do reino de Cristo".


Foi nessa ocasião que escreveu:


"Continuarei lutando com Deus em oração pelo rebanho aqui e, especialmente, pelos índios em outros lugares, até a hora de deitar-me. Oh! Como senti ser obrigado a gastar o tempo dormindo! Anelava ser uma chama de fogo, constantemente ardendo no serviço divino e edificando o reino de Deus, até o ultimo momento, o momento de morrer".


Por fim, depois de cinco anos de viagens árduas no ermo, de aflições inumeráveis e de sofrer dores incessantes no corpo, Davi Brainerd, tuberculoso e com as forças físicas quase inteiramente esgotadas, conseguiu chegar à casa de Jônatas Edwards.
O peregrino já completara a sua careira terrestre e esperava o carro de Deus para levá-lo a glória. Quando no seu leito de sofrimento, viu alguém entrar no quarto com a bíblia, exclamou: "Oh! O querido livro! Breve hei de vê-lo aberto. Os seus mistérios me serão então desvendados!"
Suas forças físicas minguavam e ele falava com mais e mais dificuldade, mas sua percepção espiritual parecia aumentar: "Fui feito para a eternidade. Como anelo estar com Deus e prostrar-me perante Ele! Oh! Que o Redentor pudesse ver o fruto do penoso trabalho da sua alma e ficar satisfeito! Oh! Vem, Senhor Jesus! Vem Depressa! Amém!" E foi assim que dormiu no Senhor.


Depois desse acontecimento, Jerusa Edwards começou a murchar como uma flor e, quatro meses depois, também foi morar da cidade celeste. De um lado do seu túmulo está o de seu noivo, Davi Brainerd, e do outro está o túmulo de seu pai, Jônatas Edwards.


O desejo veemente da vida de Davi Brainerd era o de arder como uma chama, por Deus, até o último momento, como ele mesmo dizia: "Anelo ser uma chama de fogo, constantemente ardendo no serviço divino, até o último momento, o momento de falecer".


Brainerd findou a sua carreira terrestre aos 29 anos. Contudo, apesar da sua grande fraqueza física, fez mais que a maioria dos homens faz em setenta anos.


Sua biografia, escrita por Jônatas Edwards e revisada por João Wesley, teve mais influencia sobre a vida de A. J. Gordon do que qualquer outro livro, exceto a Bíblia. Guilherme Carey leu a historia que narra sua obra e consagrou sua própria vida ai serviço de Cristo, e nas trevas da índia! Roberto McCheyne leu o diário de Davi e gastou sua vida entre os judeus. Henrique Martyn leu a sua biografia e decidiu consumir-se dentro de um período de seis anos e meio na Pérsia, a serviço do Mestre.


O que Davi escreveu a seu irmão, a Israel Brainerd, é para nós um desafio à obra missionária: "Digo, agora, morrendo, que não teria gastado a minha vida de outra forma, nem por tudo o que há no mundo".
"... sinto-me mais alegre hoje acerca dos peles-vermelhas. Oxalá que Deus atraia grande número deles a Jesus Cristo..."


Fonte: Livro Heróis da Fé / p. 71-79
Autor: Orlando Boyer / Editora: CPAD
Editado por Flávio Teodoro
Imagens extraídas dos sites:
http://en.wikipedia.org/wiki/David_Brainerd e http://www.wholesomewords.org/biography/biorpbrainerd.html

sábado, 7 de abril de 2007

Jim Elliot


"Aquele que dá o que não pode manter, para ganhar o que não pode perder, não é um tolo"



A história de Jim Elliot e seus quatro amigos é uma das histórias missionárias mais empolgantes e inspiradoras.
Jim Elliot nasceu em 8 de Outubro de 1927 na cidade de Portland, no estado americano de Oregon. Jim pertencia a uma família cristã dedicada ao Senhor; desde cedo foi instruído nos caminhos de Deus, e veio a receber a Cristo como seu salvador aos 8 anos de idade. Fred, um pastor batista, e Clara Elliot, seus pais, eram bastante cuidadosos quanto à instrução bíblica de seus filhos e exerceram forte influência na formação de suas vidas.


Jim revelou-se um jovem bastante talentoso, destacando-se em todas as atividades que se envolvia. Era líder de sua classe, e detentor de uma brilhante oratória. Elaborou um aclamado discurso de honra em homenagem ao presidente americano, Franklin D. Roosevelt, por ocasião de seu falecimento. Graduou em "desenho arquitetônico" na High School e depois se transferiu para a faculdade cristã de Illinois, a Wheaton College, onde se graduou com as mais elevadas honras.


Convicto de sua vocação e chamada, Jim prioriza seus estudos com o intuito de alcançar a melhor preparação possível para o seu ministério. Empenha-se no estudo do grego, já visando uma possível tradução do evangelho para alguma lingua nativa. Segundo o registro de seu diário, sua vida tinha sido profundamente impactada pelos testemunhos de missionários como David Brainerd e Hudson Taylor. Jim Elliot orava constantemente: "Consuma minha vida, Senhor. Eu não quero uma vida longa, mas sim cheio de Ti, Senhor Jesus. Satura-me com o óleo do teu Espírito...". Durante seus estudos conheceu Elizabeth Howard, que também tinha um chamado para missões transculturais. Apesar de seus sentimentos um pelo outro, aguardaram em oração a confirmação de Deus, e somente após a graduação eles se casaram. Jim e Elizabeth se casaram em 1953, na cidade de Quito (Equador) e em 1955, nasceu sua filha Valerie.


Jim recusou convites para pastorear em algumas igrejas nos ministérios da juventude. Para alguns líderes, Jim tinha um futuro bastante promissor no ministério pastoral nas igrejas do EUA. Por esta razão foi criticado quando insistia em sua decisão em levar o evangelho de seu Salvador aos índios na Amazônia. Jim convenceu dois de seus amigos (Ed mcCully e Peter Fleming) que trabalhavam com ele numa rádio de difusão do evangelho a participarem da escola linguística, juntamente com ele e Elisabeth. Mais tarde , os três amigos e suas esposas (Jim e Elisabeth casaram-se no Equador) partem ao Equador para trabalharem com os índios Quechua. No Equador, um piloto missionário, Nate Saint, e sua esposa juntaram-se ao grupo. Conseguiram estabelecer uma estação da missão entre os índios Quechua. Jim e Elizabeth trabalharam na tradução do Novo Testamento para a língua dos quechuas. Nesse tempo Jim se lembrou dos índios aucas (hoje conhecidos como Huaoranis) que tinham a fama de serem muito violentos e que não possuiam nenhum contato com o mundo exterior. Com o propósito de levar o evangelho aos índios huaoranis, o grupo começou a elaborar um plano que ficou conhecido como Operação Auca.


Roger Youderian, um novo missionário, com sua esposa pediram para se juntar ao grupo. Nate Saint, conseguiu avistar alguns índios aucas sobrevoando algumas áreas que foram demarcadas no mapa da operação. A partir de então começaram sistematicamente sobrevoar as áreas dos huaoranis durante quatro meses levando presentes. Amarrado por uma corda, um balde cheio de roupas, bugicangas, cereais e fotografias dos missionários era levado pelo avião que em vôos baixos deixava cair os presentes. Os índios aucas chegaram a colocar no balde um papagaio e alguns enfeites de suas vestimentas. Diante do progresso alcançado, os cinco jovens missionários resolvem montar um acampamento às margens do rio Curray. Através de uma estação de rádio comunicavam constantemente com suas esposas que tinham ficado na base da missão.
Pouco tempo depois, um grupo de quatro índios visitaram os missionários em seu acampamento. Os missionários deram-lhes presentes e alimentos como um sinal de paz. Outros contatos foram feitos por mais algumas vezes e um daqueles índios chegou a voar com Nate Saint em seu avião, sobrevoando sua própria aldeia. Incentivados por uma visita no dia 7 de Janeiro, os missionários decidiram ir até a aldeia dos huaoranis. Acordaram cedo e louvaram ao Senhor na manhã de 8 de Janeiro. Nate e Jim sobrevoando a área da aldeia dos aucas avistaram um grupo de 20 a 30 índios se movendo em direção ao acampamento. Através do rádio comunicaram com suas esposas e decidiram ás 16:30 entrarem em contato novamente.


Ao chegarem na praia de seu acampamento, Nate e Jim avisaram aos outros que os aucas estavam vindo. Munidos de armas decidiram não utilizá-las. Pouco tempo depois chegaram os aucas e pouco esses cinco jovens puderam fazer. Foram mortos pelos aucas naquele dia de 8 de Janeiro de 1956. Angustiadas pela demora do contato de seus maridos, suas esposas solicitaram imediatamente ajuda. Helicópteros e forças do exercito equatoriano sobrevoando o rio Curray encontraram os corpos de quatro missionários (não foi encontrado o corpo de Ed McCully). Seus corpos foram encontrados brutalmente perfurados por lanças e machados. O relógio de Nate Saint foi encontrado parado em 15:12 minutos, do que se deduz a hora em que foram mortos.

As esposas desses missionários, apesar da grande dor que sofreram, decidiram continuar com a missão, e algum tempo depois foram sucedidas na evangelização dos aucas. A tribo foi evangelizada e alguns anos mais tarde, o assassino de Jim Elliot, agora convertido ao Senhor Jesus e líder da igreja na aldeia batizou a filha de Jim e Elizabeth no rio onde seu pai tinha sido morto.




A vida e o testemunho desses cinco missionários martirizados por amor ao evangelho têm inspirado até hoje centenas de jovens a dedicar suas vidas ao Senhor da seara. Jim Elliot procurou servir a Jesus com todas as suas forças e a maior parte de sua vida e de seu ministério é contado por sua esposa Elizabeth em dois livros publicados posteriormente. Sua célebre frase, encontrada em seu diário nos inspira a entregar sem reservas a nossas vidas nas mãos do Mestre: "Aquele que dá o que não pode manter, para ganhar o que não pode perder, não é um tolo".


Biografia de Jim Elliot compilada por LUCIANO HÉRBET a partir de textos extraídos da internet
Imagens extraídas do site www.atanycost.org

Referências:

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Missões - Amor sem Fronteiras


LUCIANO HÉRBET



Quanto do amor de Cristo há em meu coração? Quanto desse amor que levou o Cordeiro a se entregar por mim (Gn. 3:15)? Quanto desse amor que resultou na kenósis de Jesus (Fp. 2:1-11)? Destarte, acredito que algumas gotas apenas desse inaudito amor em nossas vidas será suficiente para nos mover da letargia e da indiferença espirituais em que nos encontramos; diante da triste e terrível realidade da separação eterna de Cristo e de seu reino, inúmeras pessoas passam por nossas vidas sem ser impactadas pelo evangelho que professamos.


Tenho percebido que se não sofremos por aqueles que estão ao nosso redor, como nossos familiares, amigos e vizinhos não nos preocuparemos com aqueles que estão distantes de nós, os quais não vemos ou conversamos. A Biblia nos revela que o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm. 5:5) e que esse divinal amor nos constrange (2 Co.5:14). Esse amor fez com que o Filho se tornasse como um de nós e em nosso lugar suportasse toda a ira divina pelo pecado. Na eternidade com Deus não existirá qualquer forma de sofrimento, mas quando estivermos diante do Senhor em seu tribunal para prestar contas de todas as nossas ações (1 Co. 3:13; 2 Co.5:10), muitos de nós ao contemplar de fato o destino que aguarda aqueles que não receberam a Cristo, se angustiarão profundamente por não ter dedicado totalmente suas vidas em prol da evangelização. Por outro lado, a alegria de encontrar pessoas que foram salvas através da instrumentalidade de nossa própria vida deverá ser algo indescritível.

A Missão da Igreja

A missão da Igreja é revelada primeiramente em Gênesis 12:3 "...e em ti serão benditas todas as famílias da terra". A igreja é a descendência espiritual de Abraão (Rm. 4:16,17), portanto segue-se então a vocação inalienável da igreja (e consequentemente de cada servo individualmente) de cumprir a Grande comissão dada por Cristo: "... é me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto ide, e fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém" (Mt. 28: 18-20) e para isso foi nos foi confirmada a grande promessa: "Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra" (At.1 :8). Como bem proclamou de seu púlpito e em seus livros, o pastor Oswald Smith ensinava que "a tarefa suprema da igreja é a evangelização do mundo".


Obediência e Unção no cumprimento da Grande Comissão

Somos embaixadores de Cristo (2 Co. 2:20). É em Seu nome que estamos indo. Portanto, cada servo deve representar fielmente a Cristo onde vive, em sua própria pátria ou não. Jesus disse: "...assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós" (Jo. 20:21). O discípulo de Jesus é revestido pelo poder celestial; tomado pelo Espírito de Cristo, é então capacitado (ungido) a entregar-se totalmente na realização da obra de seu Mestre. Esse é o verdadeiro sentido da palavra grega marturios (traduzida por testemunha) em Atos 1:8. Somos revestidos das virtudes do Espírito de Deus para nos tornarmos testemunhas fiéis de Seu Filho, a tal ponto de que se preciso for seremos martirizados por causa de Seu nome. Tanto no passado como nos dias atuais, muitos têm perdido a sua própria vida em favor do evangelho de Cristo.


Quando Jesus nos comissionou a pregar o evangelho Ele disse "tanto em ... como... e até aos confins da terra". Tanto aqui como ; e ao mesmo tempo. Não há fronteiras para o evangelho. Missões é alcançar toda a criatura com o evangelho de Jesus. Anunciar a todos os povos, tribos e raças o evangelho das Boas Novas de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Acredito realmente que foi Deus quem deu a visão para algumas agências missionárias de estabelecerem os missionários autóctones, da própria terra. Em algumas situações, como países fechados para missionários, os autóctones são a única maneira eficaz de se levar o evangelho. Obstáculos dificílimos são superados através desses missionários. Contudo, não podemos menosprezar os missionários estrangeiros. Ambos são igualmente importantes. Deve se levar também em consideração que dentro de um mesmo país ou região pode se ter grupos etnicos, culturais e sociais tão distintos que se constituem em diferentes campos missionários. Vale lembrar dos bolsões de miséria que existem em nossas grandes cidades, constituindo grupos específicos de pessoas ("tribos") como os catadores de lixo; grupos etnicos e culturais como colônias de árabes e asiáticos, ciganos, tribos indígenas e outros grupos.


Todo o crente um missionário

Há algum problema ou ignorância espiritual na vida do servo de Cristo que não está envolvido com Missões. Missões é o propósito de Deus para as nossas vidas. Todo o crente deve ser um missionário em plena dedicação. Não existe missionário "aposentado". Pois todos nós devemos estar envolvidos com Missões até o fim de nossas vidas. Há aqueles que vão para outros lugares e há os que sustentam os primeiros, através das orações e financeiramente. Acredito que o nosso investimento (não me reporto apenas a valores financeiros) em missões refletem a situação ou nível espiritual que vivemos.


Compaixão pelas almas

creio ser esse o melhor instrumento para medir o nosso amor pelo Senhor da seara. Viver a Cristo é desejar a Sua glória. É anunciá-lO para todos os povos a fim de que Seu nome seja glorificado. Jesus então pergunta: "a quem enviarei, e quem há de ir por nós?"(Is. 6:8); se você responde positivamente, então o Missionário envia missionários...


Luciano Hérbet O. Lima
Membro da Igreja Bíblica Congregacional em Vitória da Conquista-Ba.
Imagens retiradas dos sites www.gfa.org e www.miaf.org.br










quinta-feira, 5 de abril de 2007

Levando a Sério a Nossa Missão


Pr. Walter Santos Baptista
(Lucas 4.14-21)

O verso 14 deste capítulo, chamado por alguns de “O Manifesto de Nazaré”, inicia uma das mais extraordinárias narrativas do evangelho. Jesus lê no culto da sinagoga o trecho de Isaías 61.1,2 acrescido de Isaías 58.6. Com essa narrativa, única nos Evangelhos Sinóticos, única, aliás, nos Evangelhos, enquanto Mateus e Marcos dizem que Jesus anuncia o reino de Deus, Lucas mostra que o reino é a realidade do próprio Jesus, o Messias, o Cristo, o Ungido de Deus.

BREVÍSSIMA ANÁLISE

Diferentes critérios poderão ser utilizados no estudo deste tocante trecho. Há quem o veja por seu aspecto literário, seu lado puramente poético, e, assim, perceba o paralelismo entre os seus versos, onde “porquanto me ungiu para anunciar boas novas aos pobres” casa com “restauração da vista aos cegos”, e “enviou-me para proclamar libertação aos cativos” é paralelo a “para por em liberdade os oprimidos”, tendo tudo seu ápice em “para proclamar o ano aceitável do Senhor”.

Há quem olhe o apelo político das fortes expressões: “anunciar boas novas aos pobres”, “libertação aos cativos”, “restauração da vista aos cegos”, “por em liberdade os oprimidos”, posição tão do agrado dos liberacionistas e dos radicais de uma modo geral.
Podemos ver, no entanto, a extraordinária lição de apostolado, o embasamento de um ministério que é repassado à Igreja de Cristo. Analisemos, assim, a missão que nos é confiada.
Tudo começa com a unção porque nenhum empreendimento em nome de Cristo subsiste sem a unção do Espírito: “O Espírito do Senhor está sobre mim...”, diz o texto (v. 18a).
O apóstolo Pedro, num culto de proclamação do evangelho em casa de um oficial do exército romano, refere-se ao ministério de Jesus Cristo afirmando, “como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder; o qual andou fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele” (At 10.28). Afirmação que nos conduz às incisivas expressões que definem a plataforma a ser seguida por Jesus.

Verso 18 Recordemos a palavra profética: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar aos pobres. Enviou-me para apregoar Liberdade aos cativos, Dar vista aos cegos, por em liberdade os oprimidos...”
Há uma profunda carga emocional nestas palavras: pobres, cativos, cegos, oprimidos. E Jesus as lê em Isaías 61.1, capitulo considerado como o cerne da mensagem do profeta Isaías.
Jesus Se identificando com o fato profético de Isaías 61, demonstra ser o portador do Espírito, o profeta escatológico, proclamador das “boas novas”, arauto do evangelho, e aquele que traz libertação para os oprimidos, função eminentemente messiânica.
Os pobres, os cativos, os cegos e os oprimidos são não apenas os desafortunados deste mundo, mas os que têm necessidade especial de dependência de Deus, o que pode ser conferido em Lucas 1.53 e 6.20.

Um comentarista de Lucas diz, a esse propósito, que “O cativeiro a que se refere [Lucas 4.18,19] é evidentemente moral e espiritual. O pensamento não se move no plano de abrir portas físicas, mas livrar os homens da invisível, porém terrivelmente real prisão de suas almas”. Na verdade, essas palavras de tão forte carga emocional descrevem a falência espiritual à qual Jesus dá especial atenção.
Verso 19 A palavra profética completa dizendo, “e anunciar o ano aceitável do Senhor”. Este “ano aceitável do Senhor” a ser proclamado é a era messiânica iniciada na pessoa e obra de Jesus Cristo.
Verso 21 Lucas registra que Jesus Cristo fez o seguinte comentário:
“Hoje se cumpriu esta escritura em vossos ouvidos”.
Os contemporâneos de Jesus não duvidavam que o reino de Deus viria algum dia, mas Jesus ensina que Deus está agindo agora, no presente, na obra dEle mesmo. Com isso, Jesus é feito o centro da História.

O propósito divino é tudo colocar sob a autoridade de Jesus Cristo, o Senhor da História, agora com a vinda do reino, exaltado, glorificado; Jesus libertador de Quem Paulo, apóstolo, diz: “seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vinda, seja a morte, seja o presente, seja o futuro, tudo é vosso, e vós de Cristo, e Cristo de Deus” (1Co 3.22).

AS LIÇÕES

O ser humano vive preocupado com o congelamento do salário, com a inflação crescendo em surdina, com o avanço e engodo das seitas, com os conflitos e a esperada paz mundial. Pois Jesus traz nova compreensão da vida humana, por isso que, plenamente de acordo com Sua plataforma de ação, é o portador da obra redentora de Deus, oferece Sua Palavra e Suas ações como desafio à fé.

Muitos contemporâneos de Jesus criam que o reino de Deus era poder temporal (Lc 22.24-30; Mt 20.20), libertação política (Mt 27.39-44; Jo 6.14ss; At 1.6), e, mesmo, comida e bebida (Rm 14.12). Mesmo os discípulos caíram nesse erro. Jesus, no entanto, esclarece que o reino de Deus já veio em Sua Pessoa e disso oferece provas (Mt 4.17; 11.1-6; 12.28; Lc 17.20ss).
A fraqueza de algumas pregações está na idéia de que o reino de Cristo ainda virá. Não é, entanto, o que Jesus Cristo ensina. Narra Lucas que “Interrogado pelos fariseus sobre quando havia de vir o reino de Deus, respondeu-lhes: o reino de Deus não vem com aparência visível. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Ei=lo ali! Porque o reino de Deus está dentro de vós” (cf. Mt 3.2; 12.28)

É o reino inaugurado, apesar de que será plenamente cumprido na Parousia, a Segunda Vinda. (cf. Lc 22.18), aquilo que C. H. Dodd chamou de “Escatologia Realizada”.
E que lições extraímos desses fatos, se diante de nós temos uma missão a ser levada com o máximo de seriedade?

1a lição - Jesus é o cumprimento das antigas profecias.
Apesar de Suas palavras fazerem nascer diferentes opiniões: admiração, como no verso 22 (“Todos lhe davam testemunho, e se maravilhavam das palavras de graça que saíam da sua boca...”), ou repulsa, como no verso 28 (“Todos na sinagoga... se encheram de ira”); apesar de quererem seus conterrâneos os sinais do shalom que Ele traz, como destacado no verso 23, o Messias oferece uma salvação completa, integral, verdadeiro sentido semântico do conceito e da palavra shalom.

2a lição -o reino de Deus é Jesus Cristo entre nós.
É o Emanuel. Não é libertação para o futuro, pois já vivemos os chamados “últimos dias” ((At 2.17; Hb 1.2; 2Pe 3.3; 1Jo 2.18). Mas Jesus é “hoje” a boa notícia, a graça, a redenção dos homens. Jesus glorificado, Salvador, Senhor, Cristo, é poder renovador para a terra, salvação para a pessoa humana, razão porque o livro dos Atos dos Apóstolos repete o fim que a verdade está em Cristo Jesus, e mostra o modelo da “Plataforma de Nazaré” na defesa/sermão de Paulo ao rei Agripa: “Eu te livrarei deste povo, e dos gentios, a quem agora te envio, para lhes abrir os olhos, e das trevas os converter à luz, e do poder de Satanás a Deus, a fim de que recebam remissão dos pecados e herança entre aqueles que são santificados pela fé em mim” (At 26.17,18).

3a lição - a missão é dada por Deus
Afinal, a missão de Jesus Cristo é o modelo, padrão, norma para a missão de Seus discípulos, como expresso em João 20.21: “Assim como o Pai me enviou, eu vos enviou”. Isso quer significar que para igrejas que têm como modelo a missão de Jesus, há necessidade de vidas modeladas por Ele mesmo, que tenham a Sua mente, pois “aquele que diz que está nele, também deve andar como ele andou” (1Jo 2.6; cf. 1Co 2.16; Fl 2.5-8; Rm 8.29).

Se o apostolado cristão nasceu do coração do Mestre, temos que o Deus Vivo da História da Salvação é um Deus que envia. Enviou Seus profetas a Israel; enviou Seu Filho ao mundo; em Cristo, enviou os apóstolos, os setenta e a Igreja; enviou o Espírito Santo à Igreja e aos nossos corações, e nos envia ao mundo, apóstolos, missionários, evangelistas, educadores, facilitadores da sagrada comissão (Jo 20.21; 17.18).

4a lição - é preciso redescobrir a importância da escatologia, ponto de contato entre teologia e missão cristã.
Do ponto de vista da teologia, sem escatologia, o evangelho é tão somente um ideal ético. O povo de Deus não pode ter crise de identidade, pois sabe quem é, sabe o que faz, e sabe para Quem vive.
Outrossim, o povo de Deus não pode perder a memória. Uma grande característica do povo de Israel é a preservação da memória (tzikaron)de quem ou do que merece ser lembrado. A memória da Igreja é o Novo Testamento, são os atos apostólicos, as ações e reações da Igreja Primitiva. O povo de Deus há de estar padrões acima do sistema deste mundo tenebroso. Jesus, o Cristo de Deus, é decisivo, normativo para os assuntos de fé e prática. Isso nos traz a

5ª lição - ninguém pode obedecer à ordem de ir ou a de servir se não houver amor porque a missão da Igreja de Jesus Cristo não pode ser realizada sem esta característica essencial do cristão. Jesus perguntou a Pedro (Jo 21.16): “Simão, filho de João, verdadeiramente tu me amas?”.
Que significa isso hoje? Sem dúvida, três passos no desafio e compromisso do cristão:· É um convite à auto-consciência. Alguém expressou que somos mãos, pés, olhos e boca de Deus; somos Seus instrumentos, agentes do Reino. · Um convite à consciência da pessoa de Jesus Cristo como Messias de Deus, Ungido do Pai, o Filho do Deus Vivo, Senhor de nossas almas, de nosso futuro, de nosso destino. · Um convite ao compromisso. Se Deus prova o Seu amor para com os infelizes pecadores no fato de que Cristo morreu por nós, estando nós ainda nessa condição, nossa gratidão se expressará no cometimento apaixonado: cumprir a missão sob o poder do Alto e na força do Espírito. Não diz o hino 438 do Cantor Cristão na sua terceira estrofe:
“Firmes, levemos a mensagem santa
Do evangelho de Jesus!
Esta mensagem divinal que encanta
E que o pecador conduz;
Cheia de bênçãos do glorioso Deus,
Que descobre os escolhidos seus,
Cheia de amor, traz-nos do céu o fragor
Da compaixão de Deus e dá-nos graça tanta!

Vamos, irmãos, levar
Essa luz ao mundo inteiro!
Vamos, irmãos, contar
Que esse dom é verdadeiro!
Vamos, irmãos, pregar
Mui confiados no Cordeiro
Que na cruz já fez A nossa redenção”.

Vamos?

Texto extraído so site www.monergismo.com
Sobre o autor: Walter Santos Baptista é Pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, BA. (Agradecemos ao autor pela autorização escrita para publicarmos os seus artigos no Monergismo.com)